Ontem, no 23 de abril foi a última eleição regional na Áustria, no estado de Salzburg. O resultado dessa eleição mostrou aquilo que já vinha tendência nas eleições anteriores, nos estados da Baixa-Áustria e Caríntia, a pulverização dos partidos tradicionais.
Durante muito tempo, a Áustria foi governada pelos dois principais partidos políticos do país. Os conservadores, ÖVP e os sociais-democratas SPÖ. Os alpes austríacos sempre conservador e católico votando nos conservadores e Viena, bastião dos sociais-democratas. E parte desse poder dos sociais-democratas se dá por sua política habitacional calcada em apartamentos sociais. 60% dos vienenses vivem nesses apartamentos.
Inflação e Moradia: temas centrais
A guerra na Ucrânia trouxe o aumento massivo da inflação por conta do aumento do preço dos aluguéis e aquecimento. Embora a questão da moradia, ou seja, o preço dos aluguéis já vinham aumentando desde de antes da Pandemia de Covid19. Viver na Áustria vem ficando caro. Comprar um imóvel, seja casa ou apartamento é praticamente um luxo.
O discurso de acessibilidade a moradia foi o motor da vitória do partido comunista na eleição da Câmara Municipal da cidade de Graz, no estado da Astíria em 2021. Aí a prefeita Elke Kahr é do partido comunista da Áustria, KPÖ.
Na eleição em Salzburg, o partido comunista pegou essa carona e com isso conseguiu uma votação histórica. Desde de 1949, os comunistas não conseguiam aceder ao parlamento aí.
A extrema-direita também conseguiu uma ótima votação, repetindo a boa atuação do estado da Baixa-Áustria. O FPÖ está muito bem organizado, especialmente nas redes sociais. Conseguiu capitalizar a insatisfação popular com as medidas de contenção da Covid19. E parcialmente, o FPÖ também “roubou” pautas sociais, típicas da esquerda, como o combate à inflação. Isso também se deve ao seu líder, Herbert Kickl, ótimo em retórica, mas um extremista.
No caso da Caríntia, o resultado não foi tão bom para o FPÖ. Isso se dá pela péssima repercussão da extrema-direita que no passado instrumentalizou a comunidade de origem eslovena que aí vive, fronteira com a Eslovênia.
Parlamento Nacional 2024
A eleição do Parlamento Nacional na Áustria está marcada para outubro de 2024. Se a eleição fosse hoje, o cabeça de lista do partido da extrema-direita, FPÖ, Hebert Kickl seria o Primeiro-Ministro, como mostra essa última pesquisa:
Uma das razões para isso é a insatisfação popular. De modo geral, a extrema-direita está muito bem organizada nas redes sociais e consegue captar a desilusão do eleitorado, ao propor “soluções mágicas” para problemas complexos.
O que também foi muito bem captado pelo FPÖ foram os insatisfeitos com a política de contenção do vírus da Covid19, justamente com o seu discurso anti-vacina. Em Viena houveram manifestações gigantescas contra a vacinação obrigatória. Eu estive em algumas dessas manifestações para observar as pessoas que aí estiveram. Uma boa parte delas não eram de extremistas e sim pessoas desesperadas, sejam porque perderam a sua existência por conta dos lockdown ou por problemas psicológicos resultado do isolamento.
Por outro lado é um alerta importante para os democratas. A história recente já mostrou o tão complicado extremistas e autoritários chegarem ao poder na Europa.
Um comentário em “Comunistas triunfam em Salzburg”