Turcos na Áustria e na Alemanha votam em Erdogan

O Presidente Recep Tayyip Erdoğan ganhou o segundo turno das eleições na Turquia com 52% dos votos. O candidato opositor Kemal Kılıçdaroğlu ficou com 48% dos votos. Foi uma vitória apertada para Erdogan, mas que lhe garante maioria no parlamento turco.

Também representa que a sociedade turca está bem dividida, algo que vem acontecendo em vários países. Basta ver o resultado das eleições presidenciais em outubro do ano passado no Brasil onde Lula ganhou com um pouco menos de 2% dos votos em relação ao Bolsonaro.

Se não foi uma surpresa esse resultado, já que Erdogan está faz vinte anos do poder e controla muito bem as mídias locais, o que chamou a atenção foi que a comunidade turca tanto na Áustria e na Alemanha voltaram massivamente em Erdogan. A grande pergunta que ficou no ar: O que leva essa comunidade votar assim, já que vivem na Europa?

Como eu escrevi no texto: “Turquia terá segundo turno”, a relação entre turcos e alemães ou turcos e austríacos não é uma das melhores. Os turcos vieram ainda na década de 60 para trabalhar especialmente na indústria, porque parte da população masculina foi morta durante a Segunda Guerra Mundial na Áustria e na Alemanha.

Integração fracassada

Já na noite de domingo, com quase todos os votos contados, os apoiadores de Erdogan sairam nas ruas do décimo destrito de Viena, Favoriten para festejar o resultado. Houve o comparecimento máximo nas urnas, nos consulados turcos nas principais cidades austríacas. Erdogan conseguiu 74% dos votos. Na Alemanha, Erdogan conseguiu 65,5% dos votos.

Vários textos começaram a surgir tanto na imprensa alemã e austríaca falando o tanto que essa comunidade não está integrada e o que pode ser feito para melhorar essa relação. Um dos pontos fortes da integração de ambos países é através do idioma, ou seja, o aprendizado da língua alemã. Isso já é feito faz anos, mas a grande barreira fica por conta das mulheres.

Os homens aprendem alemão para trabalhar e as mulheres ficam em casa para cuidar dos filhos. Elas quase sempre não aprendem alemão. Por isso, a cidade de Viena possue um programa que se chama “Mama lern Deustch”. O objetivo é fazer com que as mães consigam melhor se integrar e aí ajudar aos filhos nas tarefas da escola.

Aí entra a questão do nível escolar. Vários estudos mostram que quanto melhor o nível de alemão de um estrangeiro, melhores chances dele conseguir um trabalho bem remunerado. No caso dos turcos, os de primeira geração tinha planos de somente “ganhar dinheiro” e voltar para Turquia, o que não aconteceu para muitos. Nesse link há várias histórias de imigrantes turcos na Alemanha. Link em alemão.

A questão religiosa

Esse é grande tema entre as comunidades turcas na Europa Central. Vou dá o exemplo de Viena. Aqui há várias comunidades como os sérvios, húngaros, eslovacos e por aí. Mesmo que o idioma seja diferente, há uma identidade comum européia.

Há alguns anos atrás havia uma discussão para que a Turquia fizesse parte da União Européia. Como há uma pequena parte do país que faz parte do continente, havia até a promessa. Mas, isso foi se diluindo com o tempo.

Desde que Erdogan assumiu o poder na Turquia, ele vem instrumentalizando os turcos e inclusive utilizando a religião, o islã para isso. Mas, se ele faz isso, os políticos europeus, especialmente os de extrema-direita, aproveitam o gancho para embarcar nessa polarização.

Depois que apareceram as primeiras imagens dos turcos em Viena, festejando a vitória de Erdogan, políticos da direita e da extrema-direita começaram a atacar o governo de Viena, cujo o Prefeito atual é Michael Ludwig dos Social-Democratas (SPÖ).

Há saída?

Esse é um assunto muito complexo. Nos meus mais de vinte anos de Viena e observando os vários políticos que aqui passaram, nunca houve uma verdadeira discussão para integrar os turcos. Deveria haver um esforço de ambos os lados. Mas, ao mesmo tempo políticos vêem aí a oportunidade de agariar votos e seguir nessa “politicagem”. Quem perde são os mais fracos, nesse caso, as mulheres e crianças turcas.

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