Com muita atenção, tanto na Áustria como na Alemanha, a eleição presidencial na Turquia foi acompanhada de bem pertinho. O Presidente Recep Tayyip Erdogan ficou com 49,4% e em segundo lugar ficou Kemal Kilicdaroglu com 44,9%. Erdogan conseguiu ficar na frente, mas não conseguiu a maioria. Com um resultado muito apertado, a oposição falou em manipulação de votos.
Aí fica a pergunta: Por que essa eleição interessa tanto ambos países? Na Áustria, a comunidade turca é de 118 mil, de acordo com o Statisk Austria. Só na cidade de Viena são 45.997. Na Alemanha são 1.487.110 turcos e sendo a maior comunidade estrangeira nesse país.
Após a Segunda Guerra Mundial faltou mão de obra em ambos países. Na década de sessenta começaram a chegar para ocupar vários postos de trabalho, especialmente na indústria.
Difícil relação com a comunidade turca
Nem sempre a relação entre turcos e austríacos ou turcos e alemães foi fácil. E um dos grandes problemas sempre foi a difícil integração. Com certeza o idioma é sempre um fator de integração muito importante para integrar estrangeiros.
Aí vem um ponto que eu acho crucial aqui, especialmente quando se fala da relação entre turcos e europeus: entre os membros da União Européia existe um ponto comum e a religião é esse fator. No caso da Turquia não.
Em meus mais de vinte anos de Viena, eu observo no cotidiano essa complexa relação. Enquanto os turcos aprendem alemão e trabalham, as turcas ficam em casa e cuidam das crianças. Como não falam alemão, não conseguem fazer as tarefas de casa com os filhos. Com esse déficit no dioma, os filhos não conseguem trabalho mais bem remunerado.
A religião é seguramente um fator muito complexo. Um bom exemplo disso é o uso do véu que foi bem instrumentalizado, especialmente pela extrema-direita, especialmente aqui na Áustria.
Erdogan também sempre usou a comunidade em ambos países como uma espécie de bomba atômica. Um bom exemplo disso foi o jogador de futebol Mesut Özil. Nascido na Alemanha, ele cresceu em uma família turca bastante conservadora e religiosa. Por ser um excelente jogador de futebol, Mesut chegou mesmo a ser considerado um modelo de integração para Alemanha. Mas, seu apoio ao Presidente Erdogan trouxe um amplo questionamento sobre essa “integração”.
Erdogan e a União Europeia
Essa também sempre foi uma relação complexa. Erdogan é considerado um populista e não bom apreciador dos direitos humanos, especialmente quando se trata dos curdos. Ele sempre uso essa comunidade para garantir o seu poder. A Curdistão se existisse como país corresponderia uma parte importante do continente turco, no lado oeste fronteira com o Irã e Síria.
Mesmo assim, Erdogan sempre foi muit útil para a União Europeia, especialmente para conter a chegada de imigrantes para o bloco com a construção de campos de refugiados na fronteiras turcas com a Síria.
Agora na Guerra na Ucrânia tentou ser mediador entre ucranianos e russos. Inclusive negociadores de ambos países estiveram na Turquia O seu objetivo era sobretudo acalmar as tensões no mar no Negro e evitar com que essa guerra se espalha-se por aí atrapalhando o fluxo de mercadorias em seus portos aí.
Um terremoto no meio do caminho
A economia na Turquia, como acontece em outros países, também sente os efeitos da Pandemia de Covid19 e da guerra na Ucrânia. Erdogan também interfere de forma direta, o que gera muita instabilidade e inflação alta.
Mas o que realmente fez Erdogan perder massivamente votos e quase perder as eleições foi o terremoto na Turquia, no 12 de maio. Mais de 57 mil pessoas morreram e o governo foi acusado de omissão ao deixar os sobreviventes ao alento após perderem seus lares.
No 28 de maio haverá o segundo turno na Turquia. Muito difícil prever se Kemal Kilicdaroglu conseguirá vencer Erdogan. Mas, caso vença, a vitória será apertada.
Um comentário em “Turquia terá segundo turno”